segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Coelce apresenta sistema de monitoramento de descargas atmosféricas

Sistema oferece informações sobre o número de raios e a situação do tempo em todo o Brasil

Da Agência CanalEnergia, Tecnologia
11/02/2009

A Coelce realizou na quinta-feira, 12 de fevereiro, um workshop para apresentar o Sistema de Monitoramento de Descargas Atmosféricas para o Ceará, utilizado pela empresa desde 2008. Com acesso gratuito e ilimitado pela internet, o sistema oferece informações sobre o número de raios e a situação do tempo em todo o Brasil, com atualizações a cada 15 minutos e 30 minutos, respectivamente.

O sistema é fruto de um projeto de Pesquisa & Desenvolvimento da concessionária, desenvolvido entre os anos de 2005 e 2008, com investimentos totais de R$ 615 mil. De acordo com a Coelce, a tecnologia utilizada pelo sistema é inovadora no país, guardando algumas similaridades com o sistema Brasil Dat, concentrado no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A diferença é que o sistema da distribuidora do Ceará monitora todo o território brasileiro. O workshop contou com a participação do professor Carlos Augusto Morales, da Universidade de São Paulo, que desenvolveu o sistema junto com engenheiros da Coelce e pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará.

Google desenvolve tecnologia smart grid

Solução pode contribuir para que consumidores tenham maior controle sobre gastos de energia de seus aparelhos elétricos e evitem desperdícios

Da Agência CanalEnergia, PeD
11/02/2009

A Google está desenvolvendo um novo software que pode ajudar a economizar energia e reduzir valor das faturas. O Google PowerMeter mostra quanta eletricidade cada aparelho elétrico residencial está consumindo em tempo real, direto do computador. O novo software da empresa oferece diversas opções que ajudam o consumidor a entender melhor seus dados de energia e se beneficiar disto. O Google PowerMeter ainda está em fases de testes e, por isso, não está disponível ao público. No entanto, a empresa está firmando parcerias com distribuidoras e manufatureiras independentes para gradualmente inserir o software em programas-piloto.

Estudos revelam que as informações sobre os gastos de energia em casa resultam em economias entre 5% e 15% nas faturas mensais. Ou seja, se metade dos clientes de eletricidade americanos reduzissem sua demanda de energia em 10%, a redução de emissões seria equivalente à retirada de oito milhões de carros das estradas.

A empresa está, ainda, lutando por políticas de investimento em tecnologia de smart grid, cujos medidores inteligentes podem fornecer, tanto aos consumidores quanto às distribuidoras, informações sobre o consumo de energia em tempo real. De acordo com a Google, há aproximadamente 40 milhões desses medidores inteligentes em uso no mundo inteiro, e as expectativas são de que este número aumente para 140 milhões nos próximos anos.

Luz para todos: MME divulga manual de projetos especiais

Documento estabelece critérios técnicos e financeiros, procedimentos e prioridades que serão aplicados no atendimento de comunidades isoladas

Da Agência CanalEnergia, Expansão
16/02/2009

O Ministério de Minas e Energia divulgou o manual de projetos especiais que estabelece critérios técnicos e financeiros, além dos procedimentos e prioridades que serão aplicados no atendimento de comunidades isoladas no âmbito do programa Luz para Todos. De acordo com a portaria 60 publicada no Diário Oficial da União da última sexta-feira, 13 de fevereiro, o atendimento deverá ser feito, preferencialmente, por meio de fontes alternativas de energia.

O objetivo do manual, segundo o MME, é incentivar as empresas do setor a desenvolverem atendimentos alternativos para essas localidades. A publicação indica o uso de mini e micro centrais hidrelétricas, sistemas hidrocinéticos, térmicas a gás natural ou biocombustível, usinas solares fotovoltaicas e aerogeradores, além da possibilidade de sistemas híbridos. De acordo com o ministério, os recursos para a viabilização dos projetos especiais virão por subvenção econômica, correspondente a 85%, enquanto os 15% restantes virão dos agentes executores.

O manual prevê ainda que os projetos terão programa de obras específico, assim como acompanhamento físico e financeiro independentes das obras de atendimento convencionais do programa de eletrificação. Entre outros projetos, o manual permitirá a implantação de miniusinas fotovoltaicas en 13 comunidades, cada uma com 10 a 30 domicílios, localizadas no Amazonas. As unidades deverão servir de modelo para serem replicadas posteriormente. Clique aqui para ver o manual.

Horário de verão reduz em 15% consumo de energia da União

União economizou R$ 83,3 milhões na conta de energia, segundo informações da ONG Contas Abertas

Da Agência CanalEnergia, Consumidor
17/02/2009

O horário de verão contribuiu para que os órgãos federais economizassem R$ 83,3 milhões na conta de energia, segundo informações da ONG Contas Abertas. O saldo representa uma economia de 15% na comparação com o horário brasileiro de verão entre 2007 e 2008, no qual foram gastos R$ 545,1 milhões em energia elétrica. No período do último horário de verão, a quantia paga pelos órgãos dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário foi de R$ 461,7 milhões.

Segundo a Contas Abertas, o Ministério da Defesa, que envolve o consumo do Exército, Marinha e Aeronáutica, foi o órgão que mais consumiu energia no ano passado, contabilizando R$ 235,4 milhões. Ainda de acordo com a assessoria da ONG, o Ministério mantém desde 2001 uma política de racionalização de energia, que inclui, entre outras medidas, análise e registro permanentes do consumo e revisão de contratos.

O Ministério da Educação ficou em segundo lugar com pouco mais de R$ 229 milhões com energia. Os gastos correspondem, segundo a ONG, à estrutura composta por universidades, autarquias, instituições e a Subsecretaria de Assuntos Administrativos, responsável pela despesa do edifício sede, anexos e das representações do ministério no Rio de Janeiro e em São Paulo.

De acordo com o MEC, para otimizar o gasto de energia, foi firmado um projeto com o Instituto de Desenvolvimento Gerencial e o Ministério do Planejamento denominado Programa de Eficiência do Gasto Público. O plano prevê iniciativas referentes aos gastos de energia para o edifício sede e anexo do MEC e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Redução do consumo de ar-condicionado e implantação de campanhas de conscientização para economia de energia, como computadores e lâmpadas desligadas ao final do expediente, são algumas das iniciativas para o MEC. Já para o FNDE, as ações referem-se à aquisição de banco de capacitores para diminuir a energia reativa, além da redução do número de lâmpadas por metro quadrado.

Gás natural mais competitivo

Lei do Gás reúne as bases para estimular o desenvolvimento consistente de toda a cadeia do gás natural e cria um ambiente favorável para a atração de novos investidores

Arnaldo Jardim, para a Agência CanalEnergia, Artigos
16/02/2009

A aprovação da Lei do Gás, em dezembro passado, representa um divisor de águas na história do gás natural no País. O marco regulatório, que aguarda sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deve ser regulamentado nos próximos meses, contribuirá para aumentar a segurança de suprimento e reduzir os custos do combustível, impulsionando o aumento da sua participação na matriz energética brasileira. O texto conjuga argumentos técnicos e a necessária segurança jurídica, de forma a alinhar interesses econômicos, o compromisso com o crescimento e os benefícios para a sociedade civil.

Muitas rodadas de negociações se fizeram necessárias para acomodar de forma técnica e legalmente consistente anseios do governo federal, dos governos estaduais, do setor privado e da Petrobras. Por isso, a tramitação da Lei do Gás enriquece o cenário parlamentar brasileiro e enobrece o esforço de todos os interessados em sua aprovação. Para nós que participamos diretamente do processo fica a sensação de dever cumprido. Mas, além de evidenciar a maturidade política brasileira, a lei é fundamental por aportar evoluções ao mercado. A introdução das definições do consumidor livre, autoprodutor e auto-importador de gás no texto legal permitirá que grandes empreendedores possam construir gasodutos para uso próprio, bem como o desenvolvimento de um mercado livre de gás, nos moldes do existente no setor elétrico.

É importante ressaltar que essas definições também precisam ser incluídas nas regras dos estados, já que estes são responsáveis pelo setor de distribuição. Além disso, precisam ser incluídas nos contratos de concessão das distribuidoras. Nesse sentido, a nova legislação apresenta um alinhamento da visão econômica do setor sem invadir a competência dos estados, com clara definição das figuras jurídicas e respeito à Constituição.

O desenvolvimento do mercado livre de gás também deve ser estimulado pela possibilidade, prevista na lei, de compartilhamento dos gasodutos de transporte. Uma mostra disso é que os gasodutos existentes e em fase de licenciamento ambiental terão dez anos de exclusividade de uso por quem os construiu. Passada essa fase e havendo disponibilidade, outros transportadores terão o direito de usar a infra-estrutura, remunerando o proprietário das instalações e eventualmente vendendo o gás diretamente para grandes consumidores.

Isso deve estimular o ingresso de novos investidores no setor de transporte, assim como as novas regras para construção de novos gasodutos. A lei prevê que a construção de gasodutos que envolvem acordos internacionais ou interesses de um único usuário deve ser regida por autorização, enquanto os dutos de interesse público passarão a ser motivos de concessões. Semelhante ao regime adotado no segmento de transmissão de eletricidade, esse modelo de concessões deve garantir a entrada de novos agentes no segmento, colocando fim ao monopólio que, na prática, a Petrobras hoje detém sobre o sistema de transporte de gás.

Para que tudo isso funcione, no entanto, é imperioso que a atuação da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) seja pautada por um controle rigoroso de todas as atividades, as quais precisam ser fiscalizadas, para coibir condutas anticompetitivas e fomentar a concorrência saudável no setor.

Além disso, a entrada em vigor do marco regulatório depende de sua regulamentação. A Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados deve acompanhar de perto esse processo, de modo a garantir que todos os avanços incluídos na lei sejam preservados e mais bem detalhados. A expectativa é que os agentes do setor também continuem participando de maneira pró-ativa das discussões.

O trabalho continua, mas já podemos comemorar. Afinal, a Lei do Gás reúne as bases para estimular o desenvolvimento consistente de toda a cadeia do gás natural e cria um ambiente favorável para a atração de novos investidores. Eis aí um raro caso em que a síntese das discussões pode resultar em um ponto de equilíbrio a favor da sociedade.

Deputado federal pelo PPS-SP, Arnaldo Jardim integra a Comissão Especial da Lei do Gás e é membro da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados. www.arnaldojardim.com.br

Greenpeace critica viés termelétrico e nuclear do PDE 2008-2017

Entidade ambiental propõe medidas de eficiência energética e de incentivo às fontes renováveis. ONG internacional pede maior prazo para consulta pública

Alexandre Canazio, da Agência CanalEnergia, Meio Ambiente
18/02/2009

O Greenpeace divulgou nesta quarta-feira, 18 de fevereiro, sua avaliação do Plano Decenal de Expansão da Energia 2008-2017. A Organização Não Governamental do meio ambiente se mostrou crítica ao peso dado aos empreendimentos termelétricos e nucleares em detrimento das fontes renováveis - eólica, solar, biomassa e PCHs - e de medidas de eficiência energética. Além disso, pediu a realização de audiências públicas para discutir o PDE concomitante a prorrogação do prazo da consulta previsto para encerrar em 28 de fevereiro.

"O plano decenal de expansão elétrica peca ao negligenciar a redução da demanda por meio de medidas mais agressivas de eficiência energética, optando por quase triplicar a emissão de gases de efeito estufa na matriz elétrica", afirma no relatório "Crítica ao Plano Decenal de Expansão da Energia 2008-2017". Para o Greenpeace, essa decisão é um "contra-senso" em um momento no qual o mundo discute como interromper o crescimento das emissões até 2020 e zerá-las até 2050.

O grupo ressalta que "o plano, em nenhum momento, faz referência à 'eficiência energética'" e nem estabelece metas para a área. Com isso, prossegue, destoa do "Plano Nacional de Mudanças Climáticas, que propõe, em 2030, uma meta de redução de 10% do consumo de eletricidade" através da eficiência energética. O Greenpeace avalia que a eficiência "oferece múltiplos efeitos positivos", tanto em termos socioambientais, quanto econômicos.

A proposta do grupo internacional é uma redução de 20% do consumo de energia em 2030, por meio de medidas de eficiência. "O plano também é omisso em incentivar o uso de mecanismos tributários para incentivar o consumo de equipamentos mais eficientes", diz a ONG. O relatório de avaliação lembra que o PDE prevê aumento de 61% no consumo total de energia no país de 434 TWh, em 2008, para 700 TWh, em 2017.

No trato da expansão do parque gerador, o grupo se mostra preocupado com a entrada do grande volume de térmicas a óleo combustível na próxima década. Dos 15.305 MW termelétricos, que entrarão em operação no período, 7,5 mil MW são à base de óleo combustível. O forte viés térmico fará as emissões de gases do efeito estufa aumentarem 172% no setor elétrico para 39,3 milhões de toneladas de CO2.

"A geração de energia contribui com 23% dessas emissões e o país tem um enorme potencial de redução destes índices através da expansão da geração a partir de energias renováveis descentralizadas e do aumento de metas de eficiência energética", aponta na crítica ao plano. Outra vertente muito criticada pelo grupo é a nuclear. "A retomada da expansão nuclear brasileira é um total contra-senso, tanto pelos problemas mundiais de fiscalização e manejo de resíduos, quanto pelos enormes riscos à sociedade e ao ambiente", continua.

Por outro lado, o grupo também não vê com bons olhos a construção de grandes hidrelétricas na Amazônia. "A construção destas usinas deverá resultar em uma série de impactos ambientais e sociais, como a inundação de reservas indígenas e unidades de conservação", frisa o grupo. Uma alternativa para o Greenpeace é o incentivo às fontes alternativas como PCHs, parques eólicos e solar cujos potenciais o país estaria subaproveitando no PDE 2008-2017.

"O plano ignora o verdadeiro potencial das fontes de energia renováveis modernas no Brasil", observa. Para o Greenpeace, o país deveria aprovar leis de incentivo às fontes renováveis de energia. Além disso, propõe aumentar a participação de energia renováveis para 30% da matriz energética em 2030, executando as grandes hidrelétricas. Para ler a integra da crítica do Greenpeace, clique aqui.

Eólicas: Brasil precisa rever índice de nacionalização para atrair investidores

Atualmente, a indústria instalada só consegue atender um índice de nacionalização de 60%. Impostos são outro entrave aos equipamentos brasileiros

Carolina Medeiros, da Agência CanalEnergia, Negócios
20/02/2009

O índice de nacionalização de 70% exigido no Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia, preocupa os especialistas, que não querem que índice semelhante seja estabelecido no edital do leilão de eólica, com previsão para acontecer ainda este ano. Segundo eles, ainda existem poucas empresas no Brasil para atender a demanda dos empreendimentos. Além disso, a tributação, quando se compra os equipamentos no país, é muito alta, fazendo com que esses equipamentos fiquem mais caros do que os importados. A esperança, de acordo com eles, é que a partir desse primeiro leilão de eólicas, o governo desenvolva um plano para o setor de longo prazo e, assim, consiga atrair empresas fabricantes para o Brasil.

Para a advogada do escritório L.O Baptista Advogados, Daniela Santos, atualmente, uma das saídas seria flexibilizar esse índice de nacionalização. "No momento que a gente vive agora, é nebuloso impor um índice de nacionalização tão alto", disse. Segundo ela, seria razoável diminuir esse índice para que as empresas encontrem preços menores no exterior. Além disso, para Daniela, seria fundamental que o governo sinalizasse que a fonte eólica terá outros leilões e que é um mercado crescente no país. "O governo precisa dar segurança para as empresas de que essa energia está no mix da matriz energética, para conseguir atrair outros fabricantes", explicou a advogada.

Quanto a tributação interna, Daniela afirmou que é realmente alta, mas que isso não é exclusivadade do setor elétrico. De acordo com ela, todos os setores ligados à energia se ressentem muito. "A não ser que tenhamos uma reforma tributária que consiga reduzir os tributos de forma considerável, isso é algo que teremos que lidar", avaliou. No entanto, segundo ela, uma redução na tributação, em um momento delicado como atual, devido à crise financeira, daria um novo fôlego na indústria.

O diretor-executivo da Associação Nacional dos Consumidores de Energia, Lúcio Reis, afirma que hoje as indústrias instaladas no país só conseguem atender a um índice de nacionalização máximo de 60%. "Hoje, a fabricação nacional pode chegar até 60%. Só que a compra dos equipamentos e materiais com este índice inviabiliza o projeto porque com a carga tributária brasileira o projeto fica mais caro e, consequentemente, não decola", afirmou o executivo.

O número que os empreendedores em eólicas entendem que hoje estaria equilibrado, de acordo com Reis, entre o índice de nacionalização e custo do empreendimento é de 40% a 50% de nacionalização. Ele disse ainda que outro pleito do setor está na implantação de uma política energética com a inclusão de uma programa de implantação de eólicas de uma forma regular e periódica. "É necessário que haja um programa de governo com a execução de leilões, elaborado com uma certa periodicidade, para que fabricantes estrangeiros tenham confiança para vir se instalar no Brasil.

Reis explicou que os fabricantes estrangeiros apostaram no mercado americano, mas, com a crise financeira, eles estão querendo minimizar seus riscos, investindo em outros países. "É o momento de trazermos os fabricantes, reduzirmos a carga tributária e, aí sim, ter um alto índice de nacionalização", comentou. Ele disse ainda que somente no ano passado os Estados Unidos implantaram cerca de 5.300 MW só de usinas eólicas, o que representa cerca de 50% a mais de todas as fontes implantadas no Brasil no mesmo ano.

Desafios - A advogada Daniela Santos salienta que, além da questão do índice de nacionalização e da tributação, há outros desafios na elaboração do edital do leilão de eólicas. Para ela, o primeiro desafio se refere ao preço. "Se você quer que a indústria se desenvolva, é preciso dar a ela oportunidades, ou seja, um preço que não seja tão barato. Não adianta colocar um preço muito baixo, porque as empresas não vão se interessar", frisou Daniela.

Os outros aspectos, de acordo com ela, se referem ao custo do fio, ou seja, quanto vai custar e quem vai fazer a ligação; e ao início de suprimento, analisando se a proposta, que inicialmente prevê a entrada da energia no sistema em janeiro de 2012, será um prazo suficiente para os agentes, considerando que podem haver atrasos em licenciamento ambiental. "Mesmo que esses empreendimentos sejam de baixo impacto, sempre temos que contar com esses atrasos no licenciamento", afirmou a advogada.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Descoberta forma de produzir hidrogênio sem gasto de energia

Cientistas descobriram uma nova forma de produzir hidrogênio, considerado o combustível do futuro por ser capaz de gerar eletricidade em células a combustível sem gerar qualquer tipo de poluente. A nova técnica produz hidrogênio puro sem consumir energia.

Produção de hidrogênio

Hoje, praticamente a totalidade do hidrogênio é produzido a partir do gás natural, um combustível fóssil como o petróleo, o que anula seus benefícios ambientais, além de sair caro demais.

Os pesquisadores das universidades Penn State e Virginia, nos Estados Unidos, descobriram como produzir hidrogênio mergulhando aglomerados de átomos de alumínio em água. Os aglomerados quebram as moléculas de água, produzindo hidrogênio e oxigênio.

A quebra da molécula de água também pode ser feita por meio de eletrólise, mas o processo consome mais energia do que produz.

Aglomerados de alumínio

Os pesquisadores descobriram que, além das propriedades eletrônicas dos aglomerados de alumínio, o seu formato é essencial na reação com a água.

"Nossas pesquisas anteriores sugeriam que eram as propriedades eletrônicas que governavam tudo sobre esses aglomerados de alumínio, mas este novo estudo mostrou que é o arranjo dos átomos no interior dos aglomerados que faz com que eles quebrem as moléculas de água," explica o professor A. Welford Castleman Jr.

Reação espontânea

A molécula de água liga-se entre dois pontos do aglomerado de alumínio, com um dos pontos funcionando como um ácido de Lewis - um centro positivamente carregado que aceita um elétron - e o outro ponto funcionando como uma base de Lewis - um centro negativamente carregado pronto para ceder um elétron.

O alumínio ácido de Lewis liga-se ao oxigênio da molécula de água e o alumínio base de Lewis dissocia o átomo de hidrogênio. Se o processo ocorrer uma segunda vez, envolvendo dois outros átomos de alumínio, restarão dois átomos de hidrogênio, que se ligarão para formar uma molécula de hidrogênio na forma de gás (H2).

Produção de hidrogênio sem gasto de energia

O hidrogênio é produzido a temperatura ambiente. "A capacidade para produzir hidrogênio a temperatura ambiente é importante porque significa que nós não usamos nenhum tipo de calor ou energia para disparar a reação," afirmam os pesquisadores.

A descoberta é importante não apenas para a produção de hidrogênio, mas também por abrir caminho para uma nova abordagem na produção de catalisadores, que poderão ser desenvolvidos para quebrar outras moléculas.

Reciclagem dos aglomerados de alumínio

Agora os pesquisadores querem descobrir como reciclar os aglomerados de alumínio para que eles possam ser reutilizados continuamente, abrindo a possibilidade de uso prático da nova tecnologia.

A reciclagem consistirá em uma forma para retirar o grupo hidroxila (OH-) que fica ligado aos aglomerados de alumínio depois que a molécula de hidrogênio é liberada.

Bibliografia:
Complementary Active Sites Cause Size-Selective Reactivity of Aluminum Cluster Anions with Water
Patrick J. Roach, W. Hunter Woodward, A. W. Castleman, Jr., Arthur C. Reber, Shiv N. Khanna
Science
January 2009
Vol.: 323. no. 5913, pp. 492 - 495
DOI: 10.1126/science.1165884

Memória de nanotubos melhora 100.000 vezes e supera Flash

Os nanotubos de carbono já foram utilizados para a construção de transístores antes, em experimentos que abriram os primeiros caminhos para a eletrônica orgânica. Transistores de nanotubos já foram utilizados até mesmo para a construção de um nanorrádio.

A viabilização desses transistores, que se acredita poderem substituir os transistores de silício, tem tropeçado em técnicas complicadas para fabricação dos nanotubos, com avanços rumo à sua produção em larga escala tendo começado a surgir apenas recentemente (veja Chips de nanotubos de carbono são demonstrados em escala industrial).

100.000 vezes mais rápido

Um novo impulso agora foi dado rumo à adoção dos nanotubos de carbono como células de memória não-volátil - que não perdem os dados na ausência de energia. O avanço é tão grande que poderá representar um novo incentivo para a tentativa de viabilizar esses componentes nanotecnológicos.

O novo transístor é 100.000 vezes mais rápido dos que seus antecessores. Os transistores de nanotubos de carbono mais promissores demonstrados até agora gastam vários milissegundos para gravar um bit. Em comparação, uma memória Flash gasta mil vezes menos tempo, efetuando suas operações na faixa dos microssegundos.


Otimização e refinamento

O transístor que acaba de ser desenvolvido pela equipe da professora Päivi Törmä, da Universidade de Tecnologia de Helsinque, grava seus bits em meros 100 nanossegundos, um tempo comparável até mesmo às memórias usadas nos computadores atuais. E esse tempo pode ser ainda menor.

"Isto é incrível, considerando que ele não passou ainda por um processo de otimização ou refinamento. O que impõe o limite atual de 100 nanossegundos não é a memória de nanotubo, mas a configuração do nosso experimento, de forma que ele poderá trabalhar a velocidades ainda maiores, nós não sabemos ainda," diz a pesquisadora.

E o experimento é outro fator encorajador, devido à sua grande simplicidade.

Escrevendo os bits

O transístor é feito a partir de um único nanotubo de carbono, nas extremidades do qual são ligados dois eletrodos. Um terceiro eletrodo, a base do transístor, fica separado do nanotubo por uma camada isolante. É este eletrodo que é usado para escrever o bit na célula de memória.

Este terceiro eletrodo recebe um pico de tensão, que força um fluxo de elétrons através da barreira isolante. Esse fluxo de corrente representa o 1 binário, podendo ser detectado porque ele faz variar a corrente que passa entre os outros dois eletrodos.

Para escrever um 0 basta enviar outro pulso de energia pela porta, para que o primeiro seja cancelado.

Óxido de háfnio

A maioria dos transistores de nanotubos de carbono anteriores usava dióxido de silício como barreira isolante. É isso o que explica a lentidão desses transistores, uma vez que demora muito para induzir uma carga elétrica nesse material.

Os pesquisadores finlandeses substituíram o dióxido de silício por óxido de háfnio, um material que ganhou fama depois que a IBM anunciou seu uso para a construção daquela que era, na época, memória mais rápida do mundo, há cerca de dois anos.

O óxido de háfnio é muito mais sensível a alterações na corrente elétrica. Além disso, sua estrutura porosa ajuda-o a capturar uma carga elétrica muito mais rapidamente, o que explica a extrema velocidade da nova célula de memória.

Próximo desafio

Além de memórias para computador, essas novas células poderão ser um concorrente superior às atuais memórias Flash, que equipam os pen-drives e outros cartões de memória.

O próximo passo da pesquisa é juntar várias dessas células individuais para construir um verdadeiro chip de memória. O experimento até agora só demonstrou o funcionamento de transistores individuais.


Bibliografia:
High-Speed Memory from Carbon Nanotube Field-Effect Transistors with High-k Gate Dielectric
Marcus Rinkio, Andreas Johansson, G. S. Paraoanu, Päivi Törmä
Nano Letters
January, 2009
Vol.: In Advance of Print
DOI: 10.1021/nl8029916

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Programa Pensando Direito seleciona projetos

9/2/2009

Agência FAPESP – O Ministério da Justiça e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) lançaram chamada de projetos para o programa Pensando o Direito. As inscrições vão até o dia 13 de março. O apoio financeiro destinado para cada instituição será de até R$ 80 mil

O objetivo do programa é estabelecer parcerias com instituições públicas ou privadas para o desenvolvimento de pesquisas em dez áreas temáticas consideradas prioritárias pelo Ministério da Justiça, nas quais as instituições selecionadas desenvolverão pesquisas específicas.

As áreas contempladas serão: “Os novos procedimentos penais”, “Avaliação da nova lei de falências”, “Agências reguladoras e a tutela do consumidor”, “Concessão de crédito e a proteção do consumidor”, “O papel da vítima no processo penal”, “Medidas assecuratórias no processo penal”, “Análise das justificativas para a produção de normas penais”, “Estatuto da Criança e do Adolescente: apuração do ato infracional atribuído a adolescente”, “Conferências nacionais, participação social e processo legislativo” e “Juntas comerciais”.

As instituições consideradas elegíveis são faculdades e universidades públicas e privadas, fundações mantenedoras, de apoio e amparo à pesquisa, centros de pesquisa e entidades não-governamentais que comprovadamente atuem ou realizem pesquisas relativas às áreas temáticas propostas.

Para participar da seleção, as instituições deverão apresentar projeto de pesquisa em uma das áreas indicadas e uma equipe de pesquisa, que deverá ser coordenada por profissional com título de doutor em área relacionada com a área temática da candidatura.

Os projetos selecionados deverão ser concluídos até o dia 20 de março de 2010.

Mais informações: www.mj.gov.br/sal

Nanotubos originais

9/2/2009

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Um grupo de pesquisadores brasileiros descobriu uma nova família de nanotubos metálicos ocos e quadrados. O inesperado arranjo atômico é formado espontaneamente quando nanofios de prata são submetidos à tensão mecânica.

O estudo, cujos resultados foram publicados na revista Nature Nanotechnology, foi feito por cientistas do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), sob a coordenação de Daniel Ugarte e Douglas Galvão.

Ugarte, que é professor da Unicamp e pesquisador do LNLS, afirma que os nanotubos – tão pequenos quanto possível, já que sua base quadrada é formada por quatro átomos de prata – surpreenderam a equipe.

“A formação de estruturas quadradas era esperada, pelas características da prata, mas ficamos realmente surpresos com o fato de se formarem nanotubos ocos. Essa descoberta sugere que talvez existam muito mais nanoestruturas exóticas do que podíamos imaginar”, disse Ugarte à Agência FAPESP.

A equipe envolvida com o estudo trabalha há cerca de dez anos com nanofios metálicos. Em 2007, o grupo publicou na Nature Nanotechnology um artigo que foi incluído entre os 12 destaques do ano da publicação. No texto, os cientistas apresentavam os primeiros nanofios já produzidos com átomos de dois metais diferentes: ouro e prata.

Segundo Ugarte, o trabalho atual começou como um projeto sobre a propriedade de transporte de eletricidade pelos nanofios. Mas, para interpretar os dados, era preciso estudar a estrutura dos fios por meio de microscopia eletrônica de alta resolução.

“Pegamos um fio de 1 nanômetro e o esticamos de modo que pudéssemos observar a reordenação dos átomos conforme ele afinava. Esse experimento também é usado para ensaios mecânicos, a fim de estudar como os fios respondem à tensão. Fazemos isso com vários metais”, disse.

Os cientistas também investigaram o efeito da temperatura nesse reordenamento de átomos. Como já haviam estudado a ruptura dos fios de prata à temperatura ambiente, resolveram fazer o experimento a temperaturas de cerca de 150ºC negativos.

Arranjo exótico

O microscópio eletrônico utilizado estava ligado a um equipamento de DVD e o processo foi inteiramente registrado, facilitando a interpretação da etapa de rompimento dos nanofios.

“Foi então que um estudante da nossa equipe deparou com uma estrutura que não podíamos explicar pelos modelos teóricos disponíveis. As imagens de microscopia eram de excelente qualidade e nos permitiram interpretar que, de fato, eram tubos, algo bastante exótico”, disse.

De acordo com Ugarte, nenhum trabalho anterior cogitou a possibilidade de existência de uma estrutura com tal formato – nem mesmo do ponto de vista teórico ou especulativo. O arranjo em nanotubos quadrados ocos não é estável. As estruturas só existem enquanto há tensão e não podem ser observadas quando os nanofios são estudados à parte desse processo dinâmico.

“Como sempre nos baseamos em modelos criados a partir do conhecimento de metais macroscópicos, não podíamos prever esse arranjo exótico. Agora vamos fazer uma série de experimentos com outros materiais, pois suspeitamos que muitas estruturas imprevistas deverão aparecer”, contou.

Os resultados, segundo o pesquisador, deverão ajudar a compreender fenômenos ligados ao atrito e à adesão em nível nanométrico, além de abrir caminho para a possível utilização de nanopeças metálicas como reforço estrutural ou para a produção de condutores elétricos que seriam inseridos em nanodispositivos eletrônicos.

Além de Ugarte e Galvão, que também é do Instituto de Física da Unicamp, participaram da pesquisa Maureen Lagos e Jefferson Bettini, do LNLS, e Fernando Sato e Varlei Rodrigues, da Unicamp. Lagos e Sato realizam, respectivamente, doutorado e pós-doutorado com bolsas da FAPESP.

O artigo Observation of the smallest metal nanotube with a square cross-section, de Daniel Ugarte e outros, pode ser lido em www.nature.com/nnano

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Agroecologia para vencer a crise

Durante o FSM 2009, produtores familiares, pesquisadores e ativistas sociais latino-americanos defenderam a agroecologia na luta contra a crise mundial de alimentos.

05/02/2009
- A crise mundial de alimentos, conseqüência da alta internacional dos preços, já é uma realidade que aflige cerca de 1,1 bilhão de pessoas em pelo menos 36 países, segundo contas da Organização das Nações Unidos para a Agricultura (FAO). De olho no desafio de resolver estruturalmente o problema, participantes do Fórum Social Mundial (FSM 2009) defenderam a multiplicação de práticas agroecológicas, em escala global, a partir da revalorização dos saberes ancestrais aliada à ciência e à modernidade.

Será um longo caminho, defenderam os participantes da mesa “Agroecologia na América Latina”. Atiçado pela chamada Revolução Verde, que propagou a agricultura intensiva baseada no uso de insumos químicos e grandes monoculturas a partir da década de 60, o planeta passou a testemunhar a substituição da agricultura familiar, baseada na auto-suficiência alimentar e nos mercados locais, pela grande agroindústria orientada para a monocultura de produtos de exportação. Assim, passou a ser cada vez maior o número de pessoas a serem alimentadas por um número cada vez menor de produtores e fornecedores de sementes, o que teria gerado um descompasso entre a evolução dos sistemas agrícolas e quem efetivamente vive no campo. "O que a Revolução Verde fez foi interromper o processo de inovação no nível local", diz Paulo Peter, da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA).

Para os palestrantes, a solução está longe de ser simples, mas passa pela construção de um modelo agrícola com maior biodiversidade alimentar e independente de insumos não renováveis ligados ao petróleo. O fortalecimento da agricultura familiar e a adoção de novas práticas baseadas na produção agroecológica também serão necessários, assim como o avanço do consumo consciente e a reestruturação do cardápio em favor de alimentos produzidos pelos princípios do comércio justo. Isto é, economicamente viáveis, socialmente justos e ambientalmente corretos.

"A agroecologia tem uma grande oportunidade diante da crise porque acreditamos num modelo múltiplo, diverso e adaptado às culturas locais", acredita Felipe Inigues, do Movimento Latino Americano de Agroecologia (Maela), que reúne mais de 200 associações de 21 países. Isto não significa, contudo, que basta apostar na produção orgânica. "A diversificação é fundamental para a segurança alimentar de quem vive no campo. Não basta ser orgânico se for monocultura”, completa.

Quem concorda é o produtor Roberto Ramires, que representou a Associação de Agricultura Agroecológica da Bolívia durante o FSM. A organização, que reúne 30 mil produtores, aposta em um tripé: alimentos saudáveis e diversos, valorização do homem do campo e resgate das culturas locais com inclusão social. "Esse modelo tecnológico não serve para nós. O mundo precisa entender que os pequenos produtores não são marionetes nem são os cientistas os únicos seres pensantes", afirmou.

Sistematização

Para reafirmar o papel dos agricultores como geradores de conhecimento e inovação, a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) aposta na sistematização das experiências que já existem. Segundo a representante da ANA, Maria Emília Pacheco, isso inclui o mapeamento de soluções técnicas e sócio-organizativas capazes de promover a eficiência econômica e a sustentabilidade ecológica dos agroecossistemas. “Precisamos intensificar o intercâmbio de experiências inovadoras, mas é igualmente importante sistematizar essas experiências”, afirma.

Até o momento, a ANA já identificou mais de mil iniciativas em todo o país, incluindo áreas como o manejo de recursos hídricos e de criação animal, bancos de semente e sistemas agroflorestais, entre outros.

Diálogo de saberes

O professor e membro da Sociedade Científica Latino-Americana de Agroecologia (Socla), Walter Priosti, reconhece a necessidade de revalorização dos conhecimentos tradicionais em agroecologia, mas defende também maior participação das universidades no desenvolvimento e difusão de tecnologias e práticas direcionadas ao segmento. "Devemos ter cuidado com o perigo que é negar o papel da ciência nesta luta, até porque a ciência produzida para o pequeno e médio produtor é diferente dessa ciência que resultou na Revolução Verde", argumenta Priosti.

Segundo ele, esta aliança é cada vez mais necessária diante da perversidade gerada pela própria Revolução Verde. É que os sistemas alternativos, diz, tendem a ficar cada vez mais restritos a ambientes hostis, justamente aqueles pelos quais a grande indústria não mostra interesse diante das dificuldades de cultivar. “Isso demanda a geração e difusão de novos conhecimentos. Os sistemas alternativos têm a capacidade de dobrar ou triplicar a produção mundial de alimentos, mas para isso precisamos somar esforços”, completa.

Se depender da Socla, diz, não faltará apoio. Segundo Priosti, já há centros de pesquisa em Agroecologia articulados em países como Brasil, Venezuela, Argentina, Bolívia, Peru e Equador. "E este ano começará o doutorado na Universidade Nacional da Colômbia", completa.

Quem também concorda com a necessidade de um novo diálogo entre produtores e pesquisadores é Paulo Peter, da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA). "Não adianta mudar técnicas sem mudar os procedimentos de geração do conhecimento. Por isso falamos na ABA em práticas sociais de construção de conhecimento", diz. Isso implica, segundo ele, em alterar as lógicas de apropriação de conhecimento no nível local. "A ciência muitas vezes se coloca como monopolista do saber. Pesquisa participativa não é o agricultor ir até a universidade. É o contrário", defende.

Para chegar lá, contudo, é imprescindível conhecer os atores dispostos a se engajar nessa nova frente de inovação, avisa Peter. A ABA já mapeou 70 iniciativas de ensino em agroecologia no Brasil, da extensão ao doutorado. Até novembro, ABA e Socla devem concluir também um mapeamento dos espaços de pesquisa em agroecologia em toda a América Latina. “Precisamos nos conhecer melhor. Sem luta, não há vitória”, completa Felipe.

Por Vinícius Carvalho, jornalista do Portal da RTS

Tecnologia Social para um novo mundo

Mais de 40 pessoas, com as mais variadas formações, debateram no Fórum Social Mundial o papel das Tecnologias Sociais para a construção de um planeta mais justo e solidário.

04/02/2009 - Estudantes, filósofos, geógrafos, assistentes sociais, economistas, comunicadores, educadores, sociólogos e engenheiros estiveram entre os participantes das duas oficinas organizadas pela RTS no Fórum Social Mundial (FSM), em Belém (PA). O objetivo foi debater o papel das Tecnologias Sociais (TSs) para a construção de um novo modelo de desenvolvimento, bem como aproximar os participantes das ações de difusão e reaplicação de TSs no âmbito da Rede.

Segundo definição pactuada no âmbito da RTS, Tecnologias Sociais são “produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social”. Durante as oficinas, o conceito foi discutido à luz do papel das universidades e do Estado diante do atual modelo de produção técnico-científica e da necessidade de valorização dos conhecimentos tradicionais e comunitários como instrumentos efetivos de geração de conhecimento e inovação.

“As universidades ainda têm estruturas muito rígidas e é preciso aproximar os universitários destas experiências comunitárias. O conhecimento é um direito e precisamos fazer esta afirmação aqui, muito claramente, tendo como referência a relação das ciências com a própria democracia”, defendeu o filósofo argentino Oscar Vallejos, que ensina Ciência, Tecnologia e Sociedade na universidade de Santa Fé (Argentina). “A Tecnologia Social não é um conceito bem entendido, sobretudo na Argentina, e acredito que também possa ser um caminho para nosso país”, acrescentou.

Desenvolvida pelo Pólo de Proteção da Biodiversidade e Uso Sustentável dos Recursos Naturais (Poloprobio), a experiência do projeto Encauchados Vegetais da Amazônia foi apresentada durante a oficina como exemplo de como os saberes populares e científicos podem caminhar juntos em favor da inclusão social. A tecnologia, que recupera técnicas indígenas de fabricação da borracha, baseia-se na produção de um composto com a utilização do látex extraído pelos seringueiros com fibras vegetais como a embaúba e o algodoeiro. O látex é aquecido de forma controlada, com a adição de substâncias naturais coagulantes. Para estabilizar o látex, é usada uma mistura de água com cinzas, recolhidas de fornos, fogão e roçados. O resultado desse processo é o chamado "encauchado", atualmente produzido em diversas comunidades da Amazônia para complementar a renda de assentados, caboclos e ribeirinhos. “Sem o conhecimento deles, jamais teríamos tido sucesso”, lembra o professor e coordenador do projeto, Francisco Samonek.

“O problema não é só a apropriação da tecnologia. Quem a produz e para quem ela é feita? São questões que temos de nos fazer”, defendeu Lais Fraga, da incubadora de empreendimentos populares da Unicamp. Ela também deu exemplos de como é possível estreitar o diálogo entre a realidade comunitária e a pesquisa acadêmica. Uma parceria entre o CNPq, a incubadora e um arquiteto permitiu a criação de uma mesa adequada ao processo de triagem de material reciclável. A partir das demandas colocadas pelos próprios catadores, foi desenvolvida uma mesa ajustável em relação a altura, inclinação, mobilidade e tipo de resíduo. “Pedimos o material para construir a mesa, não uma mesa pronta. Isso faz toda a diferença quando você considera as necessidades dos próprios empreendimentos”, explicou. Hoje há oito mesas do tipo para cada empreendimento de reciclagem atendido pela incubadora.

O que deve estar em jogo em qualquer caso, segundo o educador social Luiz Carlos Favaron, é a apropriação de um modelo tecnológico que não sirva apenas aos interesses do mercado, o que muitas vezes significa excluir do processo de desenvolvimento técnico e científico todos aqueles que não conseguem se enquadrar como “consumidores de inovação”. “Entendo a Tecnologia Social como aquela em favor da coletividade, em nome da paz, do bem estar coletivo e do desenvolvimento humano. É outra tecnologia que não esta que está aí. Até que ponto queremos ir na raiz das desigualdades ou ficar na superficialidade das coisas?”, disse.

Como Favaron, a pedagoga Euzeni Nunes ficou sabendo da oficina da RTS por meio da programação geral do FSM. Ela integra o Núcleo de Tecnologia da Informação da Universidade Federal do Pará: “Já conhecia o tema, mas não a Rede. Vai ser muito bom ver como diferentes pessoas e instituições trabalham com a questão”, disse.

RTS

Fundada em 2005, a Rede de Tecnologia Social (RTS) viu saltar de 30 para 640 o número de instituições associadas. Com vistas a fazer valer esta capilaridade e criar efeitos demonstrativos capazes de levar à adoção de Tecnologias Sociais como políticas públicas, a RTS aposta este ano no fortalecimento da articulação em rede e na convergência institucional para garantir escala à reaplicação de TSs geradoras de trabalho e renda.

Segundo a secretária executiva da RTS, Larissa Barros, um primeiro passo para assegurar o êxito desta multiplicação é entender, desde o início, a diferença entre os conceitos de reaplicação e replicação. “A Tecnologia Social não é uma cópia. No processo de reaplicação ela precisa ser recriada e ajustada pelas comunidades”, explica.

Durante a oficina, a importância de respeitar as peculiaridades e potencialdiades locais foi realçada por diversos participantes. “Já participei de projetos de TSs que não deram certo porque muitas vezes a solução já chegava pronta”, lembra Cláudio Costa de Araújo, que trabalha com a integração de sistemas produtivos de pequena escala na Amazônia.

De acordo com Larissa, o desafio agora é consolidar a dinâmica de rede e envolver o maior número possível de instituições nos debates sobre os rumos da própria RTS. “Temos, na Rede, universidade, movimentos sociais, governos, empresas. Essa cultura da aproximação não é simples e demanda muito diálogo”, avalia. Entre as ações prioritárias para esta articulação, avisa, está a organização de momentos presenciais em que representantes das instituições associadas à RTS possam se conhecer e trocar mais diretamente conhecimentos e experiências.

Além de encontros pontuais nos estados, Brasília sediará, em abril, o II Fórum Nacional da RTS. Com caráter consultivo e propositivo, o resultado das discussões no Fórum orientará o planejamento, as diretrizes e resultados esperados para o biênio 2009-2010. Outra ação realizada ao longo do ano para estreitar a relações entre as instituições está na reestruturação do Portal, que teve a contratação de um novo jornalista e de uma nova equipe para a administração do site. “Isso sem falar na comunidade virtual, que já é um espaço que as pessoas podem se apropriar para trocar experiências e se conhecer melhor”, diz Larissa.
Certo, avisa a secretária, é que o tema vem ocupando cada vez mais espaço: “Evidência disto é que o tema do próximo Congresso do Fórum de Pró-Reitores de Extensão Universitária (Forproex) será justamente ‘Inclusão Social e Tecnologia Social’. Estamos avançando e quanto mais gente interagir, melhor”.

Por Vinícius Carvalho, jornalista do Portal da RTS

Abertas inscrições para Prêmio Fundação BB de Tecnologia Social

Além das tradicionais categorias regionais, quinta edição do prêmio abre espaço para as categorias "Participação das mulheres na gestão de projetos sociais", "Gestão de Recursos Hídricos" e "Direitos da criança e do adolescente e protagonismo juvenil".

04/02/2009 - O lançamento da 5ª edição do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social ocorreu durante a programação do Fórum Social Mundial (FSM), que terminou no dia 1º, em Belém, com atividades concentradas nos campus da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA).

O Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social chega à quinta edição abrindo espaço para as categorias "Participação das mulheres na gestão de projetos sociais", "Gestão de Recursos Hídricos" e "Direitos da criança e do adolescente e protagonismo juvenil", além das tradicionais, uma para cada região do país.

Lotando o auditório da Reitoria da UFPA, o evento de lançamento contou com a presença de Zélia Damasceno, da oscip Poloprobio, do Acre, Arildo Mota, da Unisol Brasil, Janice Dias, da Petrobras, João Batista, da Superintendência do Banco do Brasil do Pará e do Amapá, Jacques Pena, presidente da Fundação Banco do Brasil, além de outros técnicos da entidade. "O Fórum é um espaço privilegiado para divulgarmos, já que estamos falando de forma direta com os maiores interessados", disse Jacques Pena.

Realizada a cada dois anos, com a parceria da Petrobras, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e da KPMG Auditores Independentes, a premiação tem como objetivo identificar, certificar, premiar e difundir Tecnologias Sociais. O conceito compreende produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade, que representem soluções efetivas de transformação social. As inscrições serão realizadas apenas via internet www.tecnologiasocial.org.br, até o dia 29 de maio.

Os nomes dos vencedores serão conhecidos em novembro e cada um receberá R$ 50 mil, que devem ser destinados à expansão e melhoria dos processos e técnicas inscritos no concurso.

Norte e Centro-Oeste

O presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena, revelou que o desafio desta edição é conseguir ampliar o número de inscrições oriundas das regiões Norte e Centro-Oeste. "Há muita coisa sendo feita por grupos destas regiões do país que ainda não conseguimos identificar. Precisamos conseguir chegar até eles para que possam se inscrever e participar", afirma.

De 2001 a 2007, a região Sudeste inscreveu 971 projetos; a região Nordeste, 585; a região Sul, 532; o Centro-Oeste, 250 e o Norte, 159.

O projeto Encauchados de Vegetais da Amazônia, do Acre, vencedor do Prêmio, em 2007, é um exemplo do potencial da região Norte de gerar Tecnologias Sociais. A iniciativa recupera a tecnologia indígena de fabricação dos encauchados, lâminas de tecido emborrachadas com o "leite" da seringa.

No processo, o látex não é coagulado nem defumado, mas concentrado por meio da secagem pela evaporação na temperatura ambiente. A essa técnica soma-se o conhecimento científico, para realização de um acessível processo artesanal de pré-vulcanização e mistura manual de fibras vegetais ao látex. A tecnologia não utiliza energia elétrica, máquinas ou estufas, além de agregar valor à base produtiva, gerando renda e qualidade de vida aos seringueiros.

Reaplicação

"O Prêmio nos abriu muitas portas. Além do selo de Tecnologia Social, o número de unidades implantadas pelo projeto na Amazônia subiu de 16 para 29 com a parceria da Petrobras e do Sebrae", comemora Zélia Damasceno, coordenadora pedagógica do projeto.

No auditório da UFPA, durante o evento de lançamento, ela apresentou uma das multiplicadoras da Tecnologia Social. "Antes, ela era apenas dona de casa - uma ótima dona de casa e mãe. Mas, hoje, é também uma coordenadora de pintura em sua comunidade", orgulha-se.

Arildo Mota, da Unisol Brasil, destacou a importância do investimento social em cadeias produtivas, do início ao fim, além das parcerias institucionais para o investimento em novas e velhas tecnologias. "Muitas vezes, isso significa apenas recuperar antigos hábitos alimentares e culturais, respeitando o meio ambiente", acredita.

João Batista, da Superintendência do BB do Pará e do Amapá, falou sobre a importância da estratégia de Desenvolvimento Regional Sustentável do Banco do Brasil de investir em todas as etapas de cadeias produtivas, junto a agentes de desenvolvimento local, para geração de trabalho e renda em todo o país. "Coisas muito simples podem se tornar tecnologias e fazer a diferença para muitas pessoas", completa.

Reconhecimento

Outro exemplo de Tecnologia Social bem sucedida é a Cisterna de Placas Pré-Moldadas, do programa Um Milhão de Cisternas, desenvolvido pela Articulação do Semi-Árido (ASA). "É uma solução construída a partir do conceito de Tecnologia Social que é, ao mesmo tempo, um método e um processo de construção coletiva e de mobilização das comunidades", explica Jacques Pena.

Segundo Janice Dias, da Petrobras, o prêmio abre oportunidades para que grupos e organizações busquem recursos de outros parceiros. "A premiação não é o fim, mas o início de um processo de reconhecimento das Tecnologias Sociais e respaldo para que outras instituições invistam nessas iniciativas", acredita. De acordo com Janice, a Petrobras busca projetos no Banco de Tecnologias Sociais e na Rede de Tecnologia Social para desenvolver um trabalho com mais expansão e escala.

"O nosso único mérito é reconhecer os méritos alheios e identificar soluções sociais criadas por diferentes comunidades em todo o país", finaliza Jacques Pena.


Por Priscilla Carvalho, da Fundação Banco do Brasil

FAPESP e Fapema assinam acordo

Agência FAPESP
6/2/2009

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – A FAPESP e a Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema) firmaram, nesta quinta-feira (5/2), um convênio de cooperação científica e tecnológica com o objetivo de apoiar projetos de pesquisa e intercâmbio entre pesquisadores dos dois estados.

O documento foi assinado pelo presidente da FAPESP, Celso Lafer, e pelo presidente da Fapema, Sofiane Labidi. Participaram da cerimônia Ricardo Renzo Brentani, diretor-presidente, e Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, além de Sedi Hirano, membro do Conselho Superior da Fundação.

O edital para os projetos de pesquisa já está sendo elaborado e deverá ser divulgado em março. O convênio, com duração de cinco anos, prevê um aporte total de R$ 3 milhões, sendo que cada fundação investirá metade do valor.

“O convênio será voltado para algumas áreas prioritárias, como engenharia aeroespacial, tecnologia da informação e da comunicação, saúde e meio ambiente, nanotecnologia, biotecnologia, neurociência, biocombustíveis e agronegócio”, disse Labidi à Agência FAPESP.

O presidente da Fapema destacou que o convênio reforçará os diversos laços de cooperação existentes entre os dois estados. “O Maranhão mantém colaborações com São Paulo, principalmente na área aeroespacial, em Alcântara, além de outros intercâmbios nas áreas de saúde e neurociência”, disse.

De acordo com Lafer, faz parte do conjunto de atividades da FAPESP a tarefa de transmitir sua experiência de 46 anos para as fundações de fomento à pesquisa de outros estados. Segundo ele, o convênio cumpre essa função ao estreitar as relações entre as duas instituições, além de representar um impacto importante na formação de recursos humanos.

“Os Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo, publicação da FAPESP, apontam que entre 18% e 20% dos pesquisadores que recebem bolsas da Fundação posteriormente vão para outros estados. Isso mostra o efeito positivo e aglutinador da FAPESP na formação de recursos humanos em todo o país”, disse.

Brentani apontou que o convênio poderá também ter um papel importante no fortalecimento institucional da Fapema. “Com o convênio, estamos sinalizando que atribuímos uma grande importância à ciência e à tecnologia feitas no Maranhão e à continuidade das atividades da Fapema. Acredito que isso poderá ser mais um apoio para sua consolidação institucional”, disse.

Segundo Brito Cruz, o principal objetivo do convênio – criar condições para que os cientistas paulistas colaborem com os maranhenses – vai ao encontro das políticas da Fundação.

“Nossa política na FAPESP é fazer com que os cientistas de São Paulo cooperem com os melhores pesquisadores de outros lugares. Tem-se falado muito na necessidade de criar redes. O melhor modo de fazê-las é articular convênios como esse”, afirmou.

Hirano ressaltou que o convênio poderá ajudar a impulsionar vocações locais. “Parte importante da ciência é feita por agências nacionais e internacionais, mas os estados têm um papel importante, porque são capazes de estimular uma ciência voltada para interesses regionais, com algumas linhas de pesquisa muito específicas”, afirmou.

texto do convênio FAPESP-Fapema

Papa Bento 16 é doador de órgãos

O papa Bento 16 está inscrito há mais de uma década em uma associação de doadores de órgãos. A revelação foi feita em uma biografia do líder da Igreja Católica, chamada Bento XVI - O Guardião da Fé, de autoria de Andréa Tornielli.

O papa reprova a reprodução assistida com fecundação in vitro, o uso de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas e é contrário ao uso de anticoncepcionais, inclusive da camisinha. Estes pontos de vista são passados aos fiéis e considerados como pecado.

Contudo, aparentemente Joseph Ratzinger não vê problemas na doação de órgãos. Ele falou pela primeira vez sobre o assunto em 1999, quando ainda não era papa. Seu cargo era o de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, nome atual do histórico Santo Ofício da Inquisição.

Segundo o livro, lançado no Brasil pela Editora Record, "em 3 de fevereiro de 1999, Ratzinger 'confessou' publicamente, pela primeira vez, que estava inscrito em uma associação de doadores de órgãos.

"Por a disposição, espontaneamente, partes do próprio corpo para ajudar quem tenha necessidade é um gesto de grande amor", explicou.

"É lícito aderir, espontaneamente, e em plena consciência, à cultura dos transplantes e das doações de órgãos. De minha parte, posso dizer somente que já faz anos que eu me pus inteiramente em disponibilidade para doar, em face de uma eventualidade, os meus órgãos para quem se encontre em necessidade. Estou inscrito, faz anos, na associação, e trago sempre comigo este documento, no qual, além dos meus dados pessoais, está escrito que eu estou disponível, no caso de uma eventualidade, para oferecer os meus órgãos ajudando alguém que tenha necessidade: é um ato de amor, um ato de afeto gratuito, de disponibilidade."

Acesso a prontuário médico pelo celular começa a ser testado

Dados médicos à distância

A Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, acaba de implantar um projeto-piloto para testar a viabilidade do uso do smartphone (celular com funcionalidades avançadas) na verificação de dados de prontuários médicos junto ao leito dos pacientes internados.

O projeto foi iniciado com a colaboração dos professores Ajith Kumar Sankarankutty e José Sebastião dos Santos, do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Eles estão testando o software nas enfermarias do décimo andar do Hospital.

O objetivo é verificar a capacidade de alcance e de eficiência dos equipamentos de comunicação móvel como o telefone celular, que fazem conexão com os computadores do hospital por meio de uma rede sem fios.

Consulta de exames pelo celular

Segundo o diretor do CIA, Wilson Moraes Góes, "o objetivo é dar mobilidade aos médicos no acesso às informações dos pacientes, mas inicialmente o sistema se restringe a consultar exames dos respectivos pacientes".

Depois de demonstrada a eficiência do sistema os equipamentos poderão ser um recurso adicional ao uso dos microcomputadores que ficam instalados nos corredores das enfermarias e que são usados para que os médicos consultem os prontuários dos pacientes.

"Queremos viabilizar a consulta dos resultados na beira do leito, ou seja, o médico em contato direto com o paciente, com o celular na mão acessando os resultados dos exames", ressalta o diretor do CIA. "A meta é equipar todos os pontos estratégicos do hospital com a rede sem fios para que os médicos utilizem estes equipamentos móveis de comunicação, que não se restrinjam apenas aos telefones celulares".

Outros aparelhos portáteis

O sistema não necessita de conexão com a Internet e o planejamento prevê que os médicos possam utilizar o celular, palm top ou notebook.

A fase de testes terá prazo de um mês e, depois de aprovado, o sistema também vai necessitar de investimentos na expansão da rede sem fio que atualmente funciona apenas em alguns pontos isolados do Hospital.

Segundo Wilson Góes, poderá haver limitações relacionadas ao tamanho de duas polegadas do visor do celular. "Vai existir um cuidado de portar as informações para um novo formato, mais deficitário se comparado a um monitor de 17 ou 19 polegadas", observa.

Redução dos papéis no hospital

Um dos usuários do novo equipamento, o professor Ajith Kumar Sankarankutty, considerou excelente a possibilidade de acessar informações do prontuário médico do paciente pelo aparelho de comunicação móvel que utiliza a rede sem fio. "Esta tecnologia é excelente para facilidade de acesso às informações e inclusive reduzir a quantidade de papel que é usado no Hospital e deve economizar espaço em termos de arquivo médico", aponta.

Sankarankutty acrescenta que a tecnologia pode proporcionar mais segurança em razão da possibilidade de acesso à informação computadorizada junto ao leito do paciente. Segundo o professor, o projeto-piloto é um primeiro passo de um processo que prevê a introdução de todos os dados do prontuário eletrônico do paciente. Para José Sebastião Santos, o equipamento de comunicação móvel pode "agilizar a tomada de condutas, porque é um dispositivo que permite um acesso mais rápido às informações".

Sentimento da empatia é detectado no cérebro

Colocando-se no lugar do outro

É possível compartilhar a dor que você observa em outra pessoa, mas que você nunca experimentou em seu próprio corpo?

Neurocientistas dos Estados Unidos utilizaram as mais sofisticadas técnicas de imageamento cerebral para tentar descobrir a resposta a esta questão. Eles estavam interessados em encontrar os fundamentos do sentimento da empatia diretamente nos circuitos do cérebro.

E eles encontraram, demonstrando que as pessoas capazes de sentir empatia - um sentimento geralmente descrito como a capacidade de se colocar no lugar do outro - sentem de fato o que percebem nas outras pessoas.

Perspectiva do outro

As imagens dos cérebros dos participantes do estudo mostram padrões similares de atividade neuronal quando as pessoas sentem suas próprias emoções e quando elas observam estas emoções em outras pessoas.

O estudo sugere que uma pessoa que nunca experimentou de fato um sentimento específico visto no outro tem dificuldade em ter empatia por meio do mecanismo chamado "espelhamento," que usa a própria experiência anterior para avaliar o sentimento do outro.

Em vez disso, a pessoa que sente a empatia utiliza um processo chamado "tomada de perspectiva," de natureza altamente inferencial.

Pessoas com insensibilidade à dor

"Pacientes com insensibilidade congênita à dor oferecem uma oportunidade única para testar esse modelo de empatia, explorando como a falta de representação da dor em si mesmo pode influenciar a percepção da dor dos outros," explica o Dr. Nicolas Danziger, do Hospital Pitie-Salpetriere, em Paris (França).

O Dr. Danziger e seus colegas já haviam descoberto anteriormente que os pacientes com insensibilidade congênita à dor (CIP - Congenital Insensitivity to Pain) subestimam a dor das outras pessoas quando não lhes é dada informação emocional suficiente.

Ou seja, estas pessoas dependem inteiramente de sua capacidade de empatia para avaliar de forma mais completa a dor das outras pessoas.

Ativação cerebral

Neste estudo, os pesquisadores usaram imagens de ressonância magnética funcional (fMRI) para comparar os padrões de ativação cerebral nos pacientes com CIP e em voluntários sem esta disfunção.

Foi pedido aos participantes que avaliassem o sentimento de uma pessoa em fotografias que mostravam expressões faciais de dor ou partes do corpo em situações que claramente estavam produzindo dor.

Os pacientes incapazes de sentir dor apresentaram uma menor ativação das regiões visuais do cérebro, um resultado que indica que a visão da dor dos outros desperta neles menos emoções.

Registro neurológico da empatia

Por outro lado, nos pacientes com CIP, mas não nos pacientes de controle, a capacidade para a empatia prevê com altíssima precisão a ativação das linhas centrais das estruturas cerebrais envolvidos nos processos ligados às suposições sobre o estado emocional das outras pessoas.

A ativação dessas estruturas centrais do cérebro, segundo os pesquisadores, é a assinatura do processo emocional-cognitivo acionado pela empatia. Como não possuem a experiência da dor arquivada em sua memória, os pacientes com CIP comprovam isso de forma inequívoca.

"Nossas descobertas destacam o papel essencial das estruturas centrais na tomada de perspectiva emocional e na capacidade de entender os sentimentos dos outros, mesmo sem qualquer experiência pessoal prévia desses sentimentos. É o desafio da empatia, frequentemente necessário durante as interações sociais humanas," diz o Dr. Danziger.

Cientistas criam cérebro robótico capaz de evoluir

Programar robôs da forma tradicional, como se faz um programa de computador, é uma tarefa repetitiva e exaustiva. Cada tarefa, cada passo e cada situação diferentes devem ser cuidadosamente previstos e transformados em comandos para que o robô consiga lidar com questões triviais do dia-a-dia.

Mas há alternativas, duas delas segmentadas de forma muito parecida com o que a ciência atualmente faz com o próprios seres humanos.

Aprendizados psicológico e biológico

A primeira delas é uma abordagem psicológica, por meio da qual se procura ensinar um robô, não tarefas específicas, mas como ele pode aprender por si só. O exemplo mais recente desta abordagem pode ser vista na reportagem Os robôs estão vindo. Será que estamos preparados?.

A segunda abordagem é a biológica, em que se procura fazer com que o robô evolua com o tempo, da mesma forma que os seres vivos evoluíram de organismos unicelulares até os primatas mais complexos de hoje. Este é o enfoque adotado pela equipe do professor Christopher MacLeod, da Universidade Robert Gordon, na Inglaterra.

Cérebro robótico capaz de evoluir

O que ele e sua equipe está desenvolvendo é um "cérebro de robô" - um programa de computador elaborado com base em conceitos de redes neurais e inteligência artificial - capaz de se adaptar a alterações físicas no corpo do próprio robô - como o acréscimo de um novo sensor ou de um nova garra manipuladora, de forma muito parecida com o que acontece quando acrescentamos um periférico ao nosso computador.

"Se nós queremos fazer robôs humanóides realmente complexos, com cada vez mais sensores e comportamentos mais complexos, é essencial que eles sejam capazes de crescer em complexidade ao longo do tempo - exatamente como as criaturas biológicas fizeram," explica MacLeod.

Os cientistas acreditam que o cérebro dos animais cresceu em complexidade com a adição de novos grupos de neurônios acima dos já existentes, fazendo a complexidade do cérebro crescer e tornando-os capazes de lidar com as novas situações e com as alterações físicas que eles sofreram ao longo do tempo.

Robô que evolui

O robô capaz de evoluir, que está sendo construído pelos pesquisadores, é controlado por uma rede neural, um programa de computador que replica a forma como o cérebro animal aprende. Isto permite que ele seja "treinado" para produzir as ações desejadas, sem que cada passo dessas ações precise ser previsto. O resultado é um robô que se torna capaz de lidar até mesmo com situações imprevistas.

A limitação é que esse processo de aprendizado é demorado - os animais levaram milhões de anos para percorrer essa trilha. Os cientistas então usam um algoritmo evolucionário, efetuando variações nos controles do robô e mensurando os melhores resultados, de forma a determinar quando o robô aprendeu a fazer determinada tarefa.

É o caso, por exemplo, de um robô humanóide, que precisa aprender a ficar de pé. O programa recebe as leituras dos sensores de equilíbrio e aciona os diversos motores, inicialmente de forma aleatória. A cada movimento que não dá certo, fazendo o robô cair, o algoritmo aprende e cria uma nova variação de movimentos para ser testada.

Genoma robótico

Como na natureza, essas variações são aleatórias, criadas a partir de diversos "genomas" para representar diversos padrões de comportamento e formas de agir. Os genomas que dão mais certo, adaptando o robô para lidar com a situação, vão sendo juntados para criar novos genomas mais "evoluídos", até se atingir o comportamento desejado.

O cérebro evolutivo para robôs começa funcionando com seis "neurônios". Ele foi capaz de fazer com que um robô bastante simples aprendesse a forma mais eficiente de percorrer uma determinada distância em 1.000 segundos.

Algoritmo evolucionário incremental

Os cientistas perceberam que os algoritmos evolucionários tradicionais alcançam rapidamente um limite e o robô para de aprender. Eles então desenvolveram um algoritmo evolucionário incremental, que fixa o aprendizado alcançado e parte para melhorias automaticamente.

O teste principal, contudo, ainda estava por vir. Os pesquisadores colocaram novas "pernas" no robô, o que fez com que ele se tornasse incapaz de cumprir sua tarefa de movimentação como fazia antes.

O algoritmo evolucionário incremental criou então novos "neurônios", que aprenderam a lidar com as novas pernas e refez o aprendizado de andar. A seguir, ele aprendeu novamente como cumprir a sua tarefa de percorrer a distância no prazo determinado.

Próteses inteligentes

O cérebro robótico também aprendeu como lidar com a visão. Quando o robô recebeu uma câmera, a rede neural criou novos neurônios que permitiram que ele aprendesse a seguir ou evitar a luz captada pela câmera.

As possibilidades de aplicação dos novos algoritmos evolucionários incrementais são inumeráveis, abarcando toda a área da robótica.

Os pesquisadores planejam utilizá-lo também no controle de novas próteses inteligentes, como pernas e braços robóticos.


Bibliografia:
Incremental growth in modular neural networks
Christopher MacLeod, Grant Maxwella, Sethuraman Muthuramana
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Vol.: In Print
DOI: 10.1016/j.engappai.2008.11.002